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Rotterdam e o cinema negro brasileiro, o começo de tudo (parte I)

Dia 23 de janeiro começa a 48a edição do Festival Internacional de Rotterdam (IFFR) na Holanda e no dia 24 será o primeiro dia da Mostra Soul in the eye – Zózimo Bulbul’s legacy and the contemporary Black Brazilian cinema (“Alma no Olho – O legado de Zózimo Bulbul e cinema negro brasileiro contemporâneo”) com a exibição de 28 filmes, 4 longas e 24 curtas metragens. Fiz a curadoria dessa mostra a convite e em parceria com os programadores do IFFR Tessa Boerman e Peter Van Hoof.

Escrevi um pouco sobre a escolha dos filmes e as dinâmicas que marcam essa curadoria e decidi publicar em posts aqui no site do FICINE. Mas antes, é preciso explicitar o processo, a historicidade do movimento que proporcionou esse momento histórico para o cinema nacional, sim, pois a presença de tantos filmes e de uma verdadeira delegação brasileira em Rotterdam é histórico não só para o cinema negro, mas para todos nós.

O começo de tudo

Tudo começa com um primeiro desapagamento, para usar uma expressão do crítico de cinema e jornalista Heitor Augusto que também estará na Soul in the eye mediando alguns debates além da master class de Gabriel Martins. O desapagemento de Kbela, filme de 2015 de Yasmin Thayná que foi notoriamente ignorado/recusado por todos os grandes festivais do país, e que Tessa Boerman, que no IFFR é a criadora das sessões Black Rebels (2017) e Pan African Cinema Today (PACT / 2018), encontrou na internet em suas pesquisas.

Impactada pelo filme, Boerman convidou Thayná em 2017 para participar do programa Black Rebels, que além dos filmes, contou com a presença de figuras como Barry Jenkins (que aliás deu uma master class no mesmo espaço que este ano será ocupado por Gabriel Martins), Charles Burnett, e Ernest Dickerson.

Você pode clicar aqui para ver o programa.

A diretora de Kbela, Yasmin Thayná, e Bruno F. Duarte, um dos diretores do comunicação do filme, foram então para o IFFR e com eles levaram Alma no Olho, curta metragem de Zózimo Bulbul que dá nome a mostra de 2019. Foi, portanto, através de Yasmin Thayná, Bruno F. Duarte e Kbela que este segundo desapagamento ocorre e que o trabalho seminal de Bulbul foi pela primeira vez exibido no IFFR.

Yasmin Thayná, Bruno F. Duarte, Isabel Zua (atriz do filme),no palco do IFFR com Tessa Boerman
(foto: facebook de Bruno F. Duarte)

É preciso reiterar, pois já disse isto em muitos momentos desde 2017, que nem os veículos hegemônicos da imprensa nacional, nem a ANCINE noticiaram este fato. Era a primeira vez que uma diretora brasileira era convidada para o festival, era a primeira vez de Zózimo e Alma no Olho, e era mais uma vez o silêncio e a invisibilidade dos grandes circuitos relacionados ao cinema.

Bero Beyer, diretor do IFFR, Tessa Boerman, Barry Jekings, Yasmin Thayná e Bruno F. Duarte.
(foto: facebook de Bruno F. Duarte )

Foi assim, portanto, que a ideia de fazer uma homenagem ao legado de Zózimo Bulbul surge para os programadores do Festival. Já a extensão da mostra para os filmes contemporâneos foi uma outra semente plantada por Kbela. O caráter inovador do filme despertou o interesse em saber mais sobre esta geração de cineastas que hoje compõe o cenário do cinema negro brasileiro.

Foi assim o começo de tudo. Nas histórias que compõem as trajetórias negras é fundamental sempre lembrar e reverenciar o caminho, celebrando quem trabalhou ontem para tornar o hoje possível.

Salve Zózimo Bulbul!

Salve Yasmin Thayná, Bruno F. Duarte e Kbela!

Caso não tenha assistido, assista!

Na sequência publicarei a versão em português do texto produzido para o catálogo do festival e, depois, um detalhamento da curadoria das 5 sessões de curtas que compõem a Soul in the eye – Zózimo Bulbul’s legacy and the contemporary Black Brazilian cinema

Autoria: Janaína Oliveira

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Publicado por FICINE

O FICINE tem por objetivo a construção de uma rede internacional de discussões, projetos e trocas que tenham como ponto de partida e ênfase a reflexão sobre os Cinemas Negros na diáspora e no continente africano.

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