
Dedos tentam afagar a luz. Palavras ressoam com gravidade e tornam-se matéria cerzida no tecido. No rosto, sentimos o vento que atravessa o canavial e balança as flanelas dos barcos presos no cais. Por fim, sufocados, nós sofremos com o cativeiro. A palavra bordada deve ser vista, ouvida e tocada, tudo de uma só vez. O filme resgata está capacidade do nossos olhos e ouvidos de tocar o mundo, a sinestesia necessária para que possamos experimentar a obra do bispo do rosário em toda sua potência.
O Encontro de Cinema Negro Zózimo Bubul, contou com uma série de biografias e homenagens a artistas e grandes personalidades negras. Nenhum até agora deu conta de fazer o que Eu preciso dessas palavras escritas fez. O filme não se preocupa em criar um mito em torno do homem, tampouco busca mostrar a verdade objetiva sobre sua sua biografia. O filme faz uma homenage ao artista como lhe é mais adequado, pela própria obra. É a própria arte de Bispo do Rosário que surge no filme em sua máxima potência.
Com os olhos e ouvidos sensibilizados, acompanhamos os elementos do universo artístico de Bispo do Rosário serem costurados pelo filme um a um. As palavras perdem a banalidade cotidiana, eles se tornam sagradas. E esta mesma sacralidade ela conferem ao manto na qual estão bordadas. O performer veste a obra com esse peso, que nada tem de loucura, é o peso da tradição da religiosidade popular, dos foliões e romeiros que admiramos nas cores vivas de suas casacas repletas de bordados. No sudário de Bispo do Rosário que a câmara circunda, o artista e sua senbilidade estão inscritos e pulsam com uma vitalidade sem par. Tudo graças ao olhar atento das cineastas Milena Manfredini e Raquel Fernandes