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7º Festival Lagunimages (2013) – Benim: cinema, culturas urbanas e o Brasil (Parte 1)

O Festival Lagunimages – « Festival Internacional de Filmes, Televisão e Documentário do Benim” – foi criado em 2000 pela cineasta belgo-congolesa Monique Mbeka Phoba. Desde sua primeira edição, o festival bianual se afirmou como um evento em que os documentários de realizadores africanos têm destaque especial. Trata-se também do primeiro festival deste gênero criado no Benim. Em seu formato, há ênfase à produção de filmes do próprio continente africano, sendo que parte da programação responde a um tema eleito, além de incluir também parte da filmografia de um país convidado. Em 2007, após a partida de Monique, foi criada a Associação Lagunimages, com sede em Cotonou, com o intuito de dar continuidade à realização do evento, tendo como presidente a realizadora Christiane Chabi Kao.

Em sua 7ª. edição, sob direção de Noudeou Noëlie Houngnihin, o tema escolhido foi “culturas urbanas” e o país homenageado foi o Brasil. Assim, em 2013, o festival responde à crescente e rápida urbanização no continente africano, bem como a diversidade de expressões artísticas que ganham a cena como o grafite, o hip hop e o slam. Entre Brasil e o Benim, por sua vez, são tantos “fluxos e refluxos” que ligam estes dois países – a história do tráfico de escravos, dos retornados Agudas, das religiões e culturas – que a ideia do festival era estabelecer uma nova ponte que atravessasse o oceano Atlântico através do cinema. É digno de nota também, que atualmente, as telenovelas brasileiras são extremamente populares no Benim e em toda África do Oeste, tratava-se então de propor outras imagens da realidade brasileira.

Um dos grandes méritos do festival é a democratização do acesso aos filmes, num país que não possui mais salas de cinema – assim como tem ocorrido no Brasil, muitas salas beninenses transformaram-se em igrejas pentecostais. A maior parte das projeções de filmes ocorreram em praças públicas e mercados de Cotonou, lugares de grande circulação da população local: a Place de Martyrs, mercado de Godomey, a aldeia de pescadores em Fidjirossé, a Universidade Abomey Calavi e escola públicas. Nesta edição além de Cotonou, o festival teve também sua programação estendida às cidades de Allada e Parakou.

Destacamos a fundamental importância do trabalho de formação e de iniciação ao cinema a à cultura realizado pela associação nesta edição: atelier dedicado ao trabalho de atores diante da câmera por Lorris Coulon no CIRTEF (Conseil International de Radios-Télévisions d’Expression Francesa) de Cotonou; atelier de realização e produção de documentário para televisão para alunos do ISMA (Institut Supérieur des Métiers de l’Audiovisuel) ministrada pelo documentarista suíço Felix Karrer; atelier de iniciação à realização de ficção e documentário curta-metragem para jovens da escola Océan ministrada pela equipe Lagunimages; atelier de Slam pelo poeta slammeur Kamal e um atelier de dança urbana e flash-mob.

A Associação também desenvolve um trabalho de cine-clube em escolas pilotos, dentre estas o Collège Ocean, voltado para crianças e jovens e que eles pretendem estender para outras escolas. É a partir desta atividade que se realizou o atelier de iniciação ao curta-metragem para as crianças, para que elas pudessem vivenciar o processo de realização de um filme – da ideia inicial da concepção à escritura do roteiro, passando pela filmagem, até a pós-produção. Dois filmes curta metragens de 5 minutos foram produzidos pelas crianças e exibidos no festival: “Les tricheurs” ( Os trapaceiros, 2013) sobre situação da “cola” e da trapaça dos alunos em sala de aula e “Les inquietudes de Ornella e Larissa”(As inquietações de Ornella e Larissa, 2013) que traz uma crítica das crianças à falta de limpeza do ambiente escolar.

Uma parte da programação foi dedicada à produção recente beninense com os filmes curta-metragens dos alunos da ISMA : “Juste un regard” de Olivier Zinsou, “Le prix à payer” de Maxime Kossivi Tchinkoun, “Doudejdi” de Evelyne Hessou e “Rencontres virtuelles” de Ayeman Aymar Esse. Na Universidade de Parakou, foi exibido o filme “Si Gueriki” (2002) do cineasta beninense Idrissou Mora Kpaï, considerado atualmente um dos principais documentaristas africanos, que recebeu o prêmio Prince Claus em 2013.

Dentre os filmes da temática cultura urbana foram exibidos filmes como o documentário “Fangafrika: le voix de sans voix”(2007) realizado pelo coletivo Staycalm que mostra a riqueza e a energia da cena hip hop na África do Oeste, com as apresentações e entrevistas com inúmeros rappers destes de Burkina Faso, Senegal, Benim, Mali, Camarões, e outros. Também estiveram na programação “Il va pleuvoir à Conakry” (2007) de Cheik Fantamadi Camara que mostra um drama de conflito de gerações, entre modernidade e tradição; e “Ouaga Saga” (2004) de Dani Kouyaté, uma comédia que a mostra vida de jovens na cidade de Ouagadogou.

Fui convidada pela Associação Lagunimages a participar da 7ª. edição do festival, que ocorreu entre os dias 5 e 8 de dezembro, como conselheira de programação da filmografia brasileira e tive honra de ser eleita madrinha do Lagunimages 2013. Agradeço imensamente a todos da Associação Lagunimages, em especial a diretora Noudéou Noëlie Hougngnihin e a presidente Christiane Chabi Kao, pelo gentil convite, pela acolhida e tudo mais. Meus agradecimentos também à Embaixada do Brasil no Benim, ao Sr. Embaixador Arnaldo Caiche d’Oliveira, ao João Paulo Marão e Gabriela Oliveira. Também agradecemos todos os realizadores e produtores que cederam os filmes para o festival: Renata Amaral, Raquel Gerber, Cristiano Navarro, Daniel Fagundes e Núcleo de Comunicação Alternativa.

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Publicado por FICINE

O FICINE tem por objetivo a construção de uma rede internacional de discussões, projetos e trocas que tenham como ponto de partida e ênfase a reflexão sobre os Cinemas Negros na diáspora e no continente africano.

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